Enfrentar ou Confrontar?

Enfrentar,

Atacar de frente; Encarar; Defrontar, arrostar...

"enfrentar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/enfrentar [consultado em 30-07-2017].

 

Confrontar

Comparar características, diferenças ou semelhanças entre duas ou mais coisas

"confrontar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/confrontar [consultado em 30-07-2017].

 

ENFRENTAR OU CONFRONTAR?

Muitas vezes, antes duma reunião onde iremos apresentar um projeto, uma solução, ante uma determinada situação, por exemplo, duma equipa, provavelmente podemos escutar, coisas como: “tem em conta que vais ter de enfrentar opiniões contrárias”. Ante um problema ou uma situação desafiante, também poderá ouvir coisas como, “tens que enfrentar o teu medo, tens que enfrentar as dificuldades ou a adversidade”.

Enfrentar algo supõe de antemão colocar limites, defender o que é meu em frente aos outros, ou seja, supõe uma luta e uma busca pela vitória. Se enfrento algo é para vencer e sair-me bem. O próprio conceito de superar implica a imagem de ficar por cima, derrotar os inimigos. Assim, as opiniões contrárias são interpretadas como antagonistas, como os que há que combater ou derrotar.

Efetivamente, existem situações na vida em que enfrentar pode ser uma solução possível. Quando não há um caminho de diálogo, dizer “não” é um ato de liberdade e de colocar limites, muito importante.

Muitas vezes as coisas não são tão simples. Não são branco ou preto e as opiniões de todas as partes são igualmente lícitas. Os medos, os fantasmas do nosso próprio interior, as dificuldades da vida ou discrepâncias com a equipa na hora de introduzir modificações na organização do trabalho, não se vencem colocando limites unilaterais ou impondo o nosso ponto de vista.

Os nossos fantasmas do passado, recordações dolorosas, perdidas ou processos de luto não vão doer menos ou desaparecer pelo fato de negar a sua existência.

As pessoas que vencemos com os nossos argumentos calam-se simplesmente e abandonam, mas não ficam em paz.

Como podemos atuar de forma diferente?

Podemos colocar em alternativa, que em vez de enfrentarmos os nossos medos ou as nossas circunstâncias adversas, podemos decidir ir até elas a partir de outro lugar, confrontando-as. Que consequências poderemos ter?

Para começar a energia com que abordaríamos este encontro seria outra. Não vamos lutar, mas dialogar. Escutar antes de tudo. Observar a origem das opiniões contrárias, desse medo aparentemente inútil e limitante ou dessa circunstância da vida tão dolorosa e injusta.

Confrontar significa reconhecer o outro e dar-lhe espaço. Escutar as opiniões e em vez de me preocupar em derrotá-las, apoiar-me nelas e nas minhas procurando uma solução que vá mais longe que a minha necessidade de ter razão.

Confrontar significa reconhecer o outro e dar-lhe espaço.

Confrontando o meu medo, posso olhá-lo na cara em vez de o esconder ou reduzi-lo a algo estranho. Reconheço-o como real e próprio e atravesso-o, tomando-o e aprendendo dele com o intuito de seguir em frente.

Confrontando, aceito os reveses da vida, com a maturidade de quem sabe que a realidade é muito maior que nós e que o nosso caminho é aprender dele para poder olhar mais longe.

A nossa emoção será também diferente. Enfrentando, vendo o combate, move-me o medo e a raiva frente a oposições, enquanto que confrontando, estarei mais em aceitação, a serenidade e a confiança no processo, ainda que o resultado às vezes seja diferente do esperado.

Quando me enfrento, a realidade fica reduzida pelo meu preconceito sobre como as coisas devem ser, perco o que se passa realmente, o que ou outros, as suas opiniões, a compreensão de mim mesmo, por exemplo o que está por trás do meu medo. Perdemos as oportunidades de aprendizagem e de crescimento que existem sempre por detrás da adversidade. Em conclusão, se me imponho aos outros e a parte de mim próprio, não os vejo a eles, nem me vejo a mim.

Resumindo, trata-se de levantar a cabeça, aventurar-nos a sair fora da nossa segurança e olhar adiante, aberto a ver sem duplicidade a realidade, tal como ela é, muitas vezes discrepante, desafiante e dolorosa. Quando nos abrimos a confrontar o que vem, descobrimos que os nossos inimigos externos e internos, são na realidade parte indivisível de nós mesmos, que nos convidam a crescer.

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